domingo, 19 de setembro de 2010
MARINA SILVA - SERVA DE DEUS
Como a fé evangélica criacionista gerou uma polêmica no Ministério do Meio Ambiente
Em 2005, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva participava do lançamento do Festival Ecocultural do São Francisco, em Brasília. A comitiva de prefeitos da região presenteou-a com uma carranca, adorno usado na proa das embarcações, para proteção espiritual. É um símbolo da cultura que envolve o São Francisco. Mas Marina se recusou a receber o presente e deixou a festa. A carranca ficou coberta no fundo do palco durante todo o evento. Hoje, está no hall de entrada comum aos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Cultura. “Foi quando eu comecei a ver que a fé dela às vezes esbarra em sua atuação pública”, afirma a bióloga Claudia Magalhães, do Ministério do Meio Ambiente.
Marina Silva é da bancada evangélica no Congresso há uma década. Em 2004, foi consagrada missionária da igreja Assembléia de Deus. Já defendeu o ensino do criacionismo, que nega a teoria da evolução das espécies. “Todos são livres para seguir sua fé”, diz Claudia. Mas, segundo ela, várias reuniões técnicas foram interrompidas para que um pastor fizesse cultos evangélicos dentro do ministério. “Numa dessas vezes discutíamos assuntos com técnicos que vieram do Rio de Janeiro para a reunião. Não acredito que isso deva acontecer dentro de um órgão público.”
O pastor dos cultos no ministério seria Roberto Vieira, da Assembléia de Deus. Ele coordenava as orações reservadas no gabinete da ministra. Contratado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, tem cargo de consultor técnico da Conferência Nacional de Meio Ambiente. Foi responsável por quatro eventos. Ganhou R$ 70 mil pelo último deles. “Como organizador de eventos ambientais, ele é um ótimo pastor”, diz Anaelise Schüller, que foi assessora de Vieira nos últimos três anos. A falta de separação entre Igreja e Estado também está estampada em um panfleto para o encontro “O Cristão e Criação”. O telefone de contato é o da sala de Roberto Vieira no ministério.
Procurado por ÉPOCA, Roberto Vieira não foi encontrado. Mas o responsável por sua contratação e diretor no ministério, Pedro Ivo, afirmou que tudo não passa de perseguição religiosa. “Vieira é um funcionário competente. Existem funcionários de umbanda, católicos e de todas as religiões no ministério. Jamais interrompemos reuniões para cultos religiosos”, diz. “O que acontece é que, durante o intervalo de almoço, alguns funcionários se juntavam para rezar nas salas de reunião.” Marina Silva não foi encontrada para falar sobre o caso.